As marés das redes - do MySpace ao X
Há tempos, redes vão e vem o tempo inteiro, assim como perdem e ganham valor
Em 2003, antes de existirem smartphones e o conceito de digital influencers, as redes sociais já desempenhavam papel importante na internet. A primeira delas a ter destaque mundial foi o MySpace. No auge, ela atingiu 300 milhões de usuários em todo o mundo - algo impensável num longe ano de 2005. O fenômeno chamou atenção da News Corporation - conglomerado de mídia do bilionário australiano Rupert Murdoch -, empresa dona de veículos tradicionais como a rede Fox News e dos jornais The Sun e The New York Post. A empresa comprou o MySpace por US$ 580 milhões, um dos maiores negócios da internet na época.
Mas nada no mundo da internet é imutável. Com a popularização do Facebook, o MySpace perdeu terreno. A migração foi lenta e gradual. A ascensão da rede de Mark Zuckerberg significou o declínio do MySpace. Em 2008, o Facebook ultrapassou o MySpace em acessos. No ano seguinte, em usuários únicos nos EUA. Em 2011, a News Corporation vendeu a rede social por apenas US$ 35 milhões.
Anos antes, outra plataforma movimentou a economia on-line. Em 1996, o ICQ, mensageiro com 20 milhões de usuários, foi comprada pela então gigante da internet AOL por US$ 407 milhões. Após atingir os 100 milhões de usuários em 2001, o aplicativo foi ultrapassado por rivais como o Yahoo! Messenger e o soberano MSN Messenger, da Microsoft. Acabou vendido para uma empresa russa por US$ 187,5 milhões. Após passar de mãos mais vezes, foi finalmente descontinuado em junho deste ano.
Perder valor de mercado é consequência da perda de relevância. Em comum, essas e outras redes - como o Orkut no Brasil - têm a decadência. Como explicou o professor e antropólogo digital David Nemer, “uma plataforma/rede social não ‘morre’ de um dia para o outro”. As plataformas definham. Passam por um processo de degradação e um consequente abandono. Seja por uma outra plataforma mais atrativa ou pela deterioração da usabilidade, as redes são engolidas por suas próprias falhas.
No caso do X, ela acontece a olhos vistos desde a compra do Twitter por Elon Musk em abril de 2023. As diversas falhas nos servidores, em conjunto com a explosão de bots que apenas replicam palavras aleatórias para farmar engajamento e a crescente onda de desinformação impulsionada pelo próprio Elon Musk na rede.
O resultado já é percebido financeiramente. Segundo a gestora Fidelity, o X é avaliado em US$ 9,4 bilhões - quase 80% a menos que os US$ 44 bilhões pagos por Elon Musk pelo então Twitter. A queda no número de usuários ativos, a perda de grandes anunciantes e o crescente conteúdo de ódio são apontados como fatores pela desvalorização. O estudo da Fidelity, no entanto, não considera ainda o bloqueio de 40 dias que a rede sofreu no Brasil, que deve impactar ainda mais o valor de mercado.
O movimento de êxodo do X não é exclusivo do Brasil. Segundo dados de julho deste ano da DataReportal, a rede social de Elon Musk perde usuários desde outubro de 2023. Uma perda acumulada de 12% no tráfego de usuários. Ao mesmo tempo, o X enfrenta problemas judiciais na Austrália e na União Europeia. O bloqueio da rede no Brasil, inclusive, foi visto com atenção pelas autoridades do continente. Podemos ser um legado para o mundo.
e a perda de usuários só não é maior porque eles não me deixam excluir minha conta 😂😂😂